As interrupções constantes no fornecimento de energia elétrica, aliada ao aumento da demanda, especialmente nas horas de pico de consumo, representam um dos principais problemas do setor elétrico. A aposta do governo federal tem sido utilizar fontes renováveis, como solar e eólica, para diversificar a matriz energética – em sua maioria hidráulica – e proporcionar um cenário mais confortável para os consumidores, com um equilíbrio maior no fornecimento.
Esse novo perfil de matriz exigirá soluções tecnológicas para garantir a segurança do suprimento de energia. Como as fontes renováveis dependem das condições climáticas e regionais para produzir eletricidade, torná-las não intermitentes é um desafio a ser batido. Uma das promessas para ampliar o potencial é a tecnologia de armazenamento de energia, ou power storage. O sistema permite “guardar” a eletricidade gerada pelos painéis fotovoltaicos e aerogeradores, para ser utilizada de forma estratégica e sob controle, especialmente em momentos em que não fizer sol ou houver ventos.
Basicamente, a tecnologia do armazenamento utiliza dispositivos como baterias e supercapacitores para transformar a energia elétrica gerada pelos ventos e pela radiação solar em energia química. Quando esta acumulada, as reações químicas acontecem no sentido inverso, liberando a energia que estava lá anteriormente. Essa liberação pode ser feita de forma controlada e no momento desejado.
Um dos players no desenvolvimento dessa tecnologia no Brasil é o Instituto Lactec, considerado um dos maiores centros de ciência e tecnologia do país. Segundo o pesquisador da Divisão de Sistemas Elétricos da entidade, Juliano de Andrade, pesquisas tem sido desenvolvidas para a construção de baterias de armazenamento com tecnologia nacional. Na sua avaliação, as fontes renováveis poderão duplicar a geração de energia com o produto, utilizando todo o potencial dos parques eólicos e painéis fotovoltaicos.
“A geração de energia elétrica renovável só ocorre quando a fonte está disponível, o que depende da época e da região, independente da capacidade de geração instalada. No caso de um sistema de geração solar ou eólico, bem dimensionado, e com armazenamento de energia, a disponibilidade de energia subiria para 100% do tempo”, previu Andrade.
De acordo com o pesquisador, um parque eólico com capacidade de 100 megawatts (MW), por exemplo, oferece, de fato, algo em torno de 10 MW a 20 MW para a rede de abastecimento, porque gera eletricidade apenas quando tem condições de vento. Andrade explica que, sem a tecnologia de armazenamento de energia, aumentar a geração nos parques só seria possível com a instalação de novos aerogeradores e pás, o que teria custos ambientais e de infraestrutura.
“Se houvesse a possibilidade de armazenar energia toda vez que o vento gira as pás, e depois despachar ela em um momento oportuno, seria possível usar mais desse parque sem aumentar seu espaço. Iria expandir a quantidade de geração a um custo mais barato”, comentou o pesquisador.
Conforme o levantamento da Associação Brasileira de Armazenamento e Qualidade de Energia (Abaque), o mercado brasileiro para sistemas de armazenamento de energia está estimado em 95 gigawatts (GW), isso considerando apenas o potencial para uso do consumidor final, que inclui substituição de geradores a diesel e outras aplicações.
Legislação
Até o final deste ano, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) planeja lançar uma chamada estratégica e especifica, por meio do seu programa de pesquisa e desenvolvimento (P&D), voltada para estudos de power storage. Segundo Juliano de Andrade, apesar do cenário positivo, ainda é necessário cumprir algumas metas para o país ter, de fato, o armazenamento de energia no seu sistema.
“O setor elétrico está mais receoso com relação a legislação. Eles têm interesse em investir. Há vários players se movimentando com interesse nesse assunto, mas ninguém vai fazer alguma coisa sem regras bem estabelecidas”, advertiu Andrade.
Enquanto as regras não ficam claras, o Lactec prepara estudos de caso que incluem demonstração da viabilidade técnica e dos benefícios à rede com a tecnologia para subsidiar a Aneel e demais órgãos reguladores com informações sobre o setor. “Também devem ser levantados dados sobre a minimização de custos e riscos de instalação e operação. Creio que tudo isso ocorre nos próximos três anos”.
(Leandro Cipriano, da Agência Gestão CT&I)
Fonte: Agência Gestão CT&I
Data: 24/06/2016
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