Quando Monaliza chegou ao Zoológico Municipal de Curitiba ainda era um filhote. Ela foi resgatada em uma operação policial em 2019, entretanto, sua origem era desconhecida. Isso pode mudar com os resultados de um estudo genético conduzido por pesquisadores do Projeto de Conservação dos Monos no Paraná, realizado pelo Instituto de Ciência e Tecnologia (ICT) Lactec em parceria com a Copel e a Fundação Grupo Boticário.
A partir de material genético coletado das fezes dos muriquis-do-sul — também conhecidos como monos ou mono-carvoeiros —, análises buscam identificar graus de parentesco entre os grupos de animais em cativeiro e em vida livre que são acompanhados pelos cientistas. Foram analisados os genes de indivíduos do Paraná e do estado de São Paulo.
As análises apontaram que o pai de Monaliza é compatível com um macho adulto que foi registrado pelos cientistas em Água Morna, na região de Cerro Azul. Entretanto, devido ao baixo número de amostras encontradas na natureza para coleta, ainda não é possível fazer essa afirmação. Para Robson Hack, coordenador do projeto, a descoberta é uma prova dos riscos em que vive a espécie: “Quando ela chegou no zoológico, teve de ser alimentada por mamadeira durante um período e precisou de muitos cuidados. E por ela ser infante e eles dependerem da mãe até ter sua independência, é muito provável que a mãe foi capturada para ter o filhote capturado”.
Tanto Monaliza como seu pai são possivelmente paranaenses. Depois de ser retirada de sua mãe, ela foi parar no Rio Grande do Sul, onde foi encontrada com uma pessoa que não possuía autorização para abrigá-la e resgatada.
Hoje, a muriqui-do-sul vive na companhia de outros indivíduos da sua espécie. Eles também tiveram material genético coletado e descobriu-se que são todos originários do Paraná. “Por enquanto, estamos conseguindo ter informações que podem nos ajudar a contar a história dos muriquis do Zoológico de Curitiba. Mas ainda precisamos de mais dados dos animais em vida livre para que possamos montar o quebra-cabeça para traçar com exatidão o grau de parentesco dos animais”, explica o pesquisador.
Espécie ameaçada
Traçar a história de Monaliza é um avanço importante para os esforços de preservação da espécie. A tecnologia usada em análises genéticas é relativamente nova. Começou a ser usada na década de 1990 e, quase 30 anos mais tarde, responde a um questionamento que é feito desde que os primeiros monos foram resgatados e levados para proteção em Curitiba — à época, no Passeio Público: a sua origem.
Desde 2015, o Projeto de Conservação dos Monos no Paraná se dedica a encontrar, monitorar e estudar os monos remanescentes em fragmentos de Mata Atlântica. Analisando características demográficas e de comportamento dos animais, os pesquisadores buscam informações para embasar decisões que podem aumentar a segurança da espécie — um dos primatas mais ameaçados de extinção do mundo.
Com a análise genética é possível, por exemplo, identificar a necessidade de translocar um indivíduo de outro lugar para aumentar a variabilidade genética de um grupo, o que aumenta as suas chances de sobrevivência. “Se nada for feito, em algumas décadas a espécie corre sério risco de desaparecer da natureza. Ela não está dentro de nenhuma área protegida, então está sujeita a toda sorte de ameaças”, pontua Robson.
Em todo o Brasil, apenas dois zoológicos abrigam muriquis-do-sul, em Curitiba e em Sorocaba (SP), ambos parceiros do projeto. Símbolo da Mata Atlântica, o muriqui-do-sul é o maior primata das Américas e vive em média 35 anos na natureza, tendo importância internacional para conservação. Em vida livre, estima-se que existam cerca de 66 animais no Paraná. O fato de que a origem dos companheiros de Monaliza não foi identificada pode ter como causa o ainda baixo número de amostras analisadas, não englobando todos os animais, e pode significar ainda que seus parentes foram mortos. Mas também é possível trabalhar com uma hipótese mais animadora: a de que existem outros grupos de monos para serem descobertos e monitorados.