Com o aumento constante de veículos 100% elétricos circulando no Brasil, surgem desafios significativos relacionados às baterias de íons de lítio. São questões como custo-benefício, infraestrutura de recarga e reciclagem, cruciais tanto para a indústria quanto para o poder público.
Olhando para o cenário atual, somos levados a refletir sobre:
- A produção de baterias de íons de lítio de forma economicamente competitiva é um problema complexo e, por enquanto, o Brasil depende de insumos e tecnologias estrangeiras. Contudo, considerando a disponibilidade da matéria-prima (lítio) e o conhecimento existente, o país tem condições de competir nesse mercado produzindo suas próprias baterias para veículos elétricos?
- A infraestrutura de recarga no país está em desenvolvimento. É imperativo ampliar a malha de eletropostos, bem como acelerar o desenvolvimento de tecnologias nacionais relacionadas à mobilidade elétrica. Concorda?
- Além disso, o destino final das baterias de íons de lítio precisa ter o menor impacto ambiental possível. Mas o Brasil está pronto para reciclá-las?
A seguir, te convidamos a continuar a leitura e explorar esses temas com a visão de especialistas do Lactec, um dos maiores executores de projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação do país.
Vantagens das baterias de íons de lítio
As baterias de íons de lítio fazem parte do nosso dia-a-dia. Tem uma no seu smartphone, outra no seu notebook e, agora, elas se tornaram uma das melhores alternativas a curto prazo para contribuir com a descarbonização da economia. O motivo? O aproveitamento das fontes de energia renováveis e os carros elétricos precisam delas.
Comparada a outras baterias, a bateria de íons de lítio apresenta vantagens como:
– alta densidade de energia, podendo armazenar mais energia do que as baterias de outras tecnologias disponíveis no mercado;
– carregamento mais rápido;
– é mais leve do que as outras baterias;
– tem uma vida útil mais longa.
Mas nem tudo são flores. A bateria de íons de lítio é o item mais caro do carro elétrico. Seu custo representa, em média, 57% do valor do veículo.
“Estamos falando de uma bateria grande, de tração. Uma bateria que tem que assumir todas as cargas do veículo. Logo, é cara. Tem um custo alto de produção e demanda uma tecnologia avançada de gerenciamento para apresentar cada vez mais autonomia e segurança”, explica o pesquisador do Lactec, Patricio Rodolfo Impinnisi.
Lítio no Brasil? Temos!
Atualmente, a produção de baterias de íons de lítio para carros elétricos demanda metais como o níquel e o cobalto, mas o principal é o lítio.
No ranking mundial de produtores de lítio, o Chile assume a primeira posição, seguido da Austrália. O Brasil não tem destaque na produção, mas de acordo o Serviço Geológico Brasileiro, estão mapeadas 45 jazidas em estados da região Nordeste, em Goiás e Minas Gerais.
O Vale do Jequitinhonha (MG) está sendo chamado de Vale do Lítio. Especialistas consideram que o minério da região, concentrado em reservas de rochas, é mais puro do que o extraído dos desertos de sal do Chile, Argentina e Bolívia.
A Sigma Lithium, responsável pela extração de lítio no Vale do Jequitinhonha, começou a exportar remessas de lítio para a China fabricar baterias, e estima produzir 130 mil toneladas do minério até dezembro de 2023.
Com o fim anunciado dos motores à combustão e metas ousadas de eletrificação em diversos países, a demanda mundial por litio nos próximos 20 anos poderá ser 40 vezes maior do que a atual, conforme prevê a Agência Internacional de Energia (IEA).
Baterias de íons de lítio nacionais e infraestrutura de recarga
De fato, entrar no mercado mundial de lítio para baterias foi um passo importante para o Brasil. Agora, é preciso articular outro: o investimento em pesquisa tecnológica para dar suporte à produção nacional de baterias de íons de lítio.
Patrício, especialista do Lactec, explica que “atualmente, nós pesquisadores focamos na aplicação. Otimizamos tecnologias de baterias importadas e adaptamos soluções à nossa realidade. É extremamente importante pleitear recursos para produzir tecnologias aqui, de forma competitiva. O país tem uma grande oportunidade de gerar empregos e não ser dependente”.
Juliano de Andrade, também pesquisador do Lactec, vai além. “E mesmo que houvesse uma bateria perfeita para carro elétrico, também é preciso pensar nos periféricos do veículo. A gente vem trabalhando nisso: no gerenciamento da rede elétrica e em tecnologias para a infraestrutura de mobilidade elétrica.”
Reciclagem de bateria de VE
Para finalizar, é importante questionar qual será o destino final das milhares de baterias de íons de lítio de veículos elétricos.
Considerando que a vida útil de uma bateria desse tipo é de dez anos, é urgente contar com soluções para um descarte ambientalmente correto.
“Uma primeira tendência é a bateria do veículo elétrico ainda ser reutilizada. Quando ela não serve mais para acelerar o veículo de forma confiável, mas ainda funciona, pode ser retirada do veículo e usada em sistemas menos críticos, como sistemas fotovoltaicos, por exemplo, ou para carregar outra bateria de forma rápida”, explica o pesquisador Patricio.
Mas, quando a bateria de íon de lítio se tornar rejeito, Patricio e Juliano entendem que o melhor caminho é o da reciclagem.
“O exemplo é a velha bateria de chumbo-ácido. Na reciclagem da bateria de chumbo-ácido, utilizada nos carros à combustão, separa-se o ácido sulfúrico do plástico e do chumbo e sua recuperação requer pouca energia. É mais barato reciclar o chumbo da sucata das baterias do que tirar chumbo da mina, assim a bateria se torna a matéria-prima dela mesma. É totalmente reciclável”, diz Juliano.
“Já a bateria de íon de lítio é uma tecnologia mais complexa, e ainda não é viável economicamente recuperar seus componentes e estabelecer um ciclo fechado, mas isso deve mudar em pouco tempo”, finaliza Patricio.
No Brasil, a regulamentação da logística reversa de baterias de carros elétricos ainda está em debate.
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