O avanço tecnológico observado nos últimos anos na área de monitoramentos ambientais tem permitido intensificar o uso de tecnologias e a combinação de técnicas e metodologias para a avaliação integrada de recursos hídricos. Essas ferramentas auxiliam a tomada de decisões frente a eventos climáticos extremos, que resultam em enchentes ou em escassez hídrica, e comprometem a qualidade e a disponibilidade de água. São relevantes, também, nos diagnósticos de alta complexidade em desastres ambientais, como o ocorrido na bacia do rio Doce, em Mariana (MG), após o rompimento de uma barragem de rejeitos de minério.
De acordo com pesquisadores do Lactec, o sensoriamento remoto a partir de imagens de satélite é uma das técnicas mais usadas no monitoramento de corpos d’água, mas outras tecnologias têm sido estudadas para dar suporte e aprimorar o trabalho de campo e, também, otimizar o uso de recursos tecnológicos empregados nessas avaliações. O uso de sensores (câmeras hiperespectrais, multiespectrais ou laser scaners) embarcados em drones, por exemplo, é uma dessas alternativas.
“O aprimoramento na gestão dos recursos hídricos é uma preocupação inerente a praticamente todos os segmentos produtivos e, em especial, aos setores elétrico e de saneamento, nos quais o Lactec atua fortemente. Isso nos motiva a buscar novas tecnologias e desenvolver metodologias que, aliadas ao know-how de nossos especialistas, possam dar respostas mais ágeis e assertivas às empresas”, destacou a gerente de Serviços Tecnológicos e Inovação do Lactec, Tânia Graf de Miranda.
Tecnologia consolidada
O aprimoramento da consolidada tecnologia de sensoriamento com uso de imagens orbitais também tem possibilitado avançar em algumas análises. Os sensores multiespectrais dos satélites se mostraram eficientes, inclusive, para mensurar alguns parâmetros indicadores de qualidade da água, como turbidez, sólidos em suspensão e a concentração de matéria orgânica, por exemplo. Alguns sensores permitem, também, estimar a vazão de água, com base em dados de nível dos corpos hídricos.
As principais vantagens do sensoriamento remoto são a abrangência espacial, já que possível avaliar uma extensa área e ter uma visão global dos fenômenos, e a abrangência temporal, que permite uma “volta ao passado” para um comparativo das condições dos recursos hídricos, em diferentes períodos. Os bancos de imagens de satélite dispõem de registros desde 1984.
Parceria internacional
O Lactec tem parceria com a empresa alemã Eomap, que é referência no monitoramento de ambientes aquáticos com uso de satélites. A metodologia se baseia no uso inteligente dos dados coletados por imagens orbitais. A partir desse big data e de algoritmos inteligentes, é possível customizar as avaliações ambientais, de acordo com as necessidades dos grandes usuários dos recursos hídricos.
Um dos trabalhos realizados em conjunto foi a investigação dos danos ambientais, na Bacia do rio Doce e região costeira adjacente, após o rompimento da barragem de rejeitos de minério de Fundão, ocorrido em Mariana (MG), em 2015. Os especialistas aplicaram análises de imagens de satélite, modelagem e dados coletados em campo para identificar como a lama de rejeitos se espalhou pelo rio até chegar ao oceano, comprometendo a qualidade da água e a biota.
Desastres consecutivos
No ano passado, a tecnologia de sensoriamento remoto complementou o intenso trabalho de campo dos especialistas do Lactec na avaliação dos impactos das enchentes que atingiram Minas Gerais e Espírito Santo. As cheias carrearam os rejeitos de minério, que estavam depositados nas margens do rio Doce e afluentes, e ressuspenderam os sedimentos do fundo dos rios, comprometendo novamente a qualidade da água.
“Foi como estivéssemos fazendo o diagnóstico de um novo desastre ambiental”, comparou a gerente de Meio Ambiente do Lactec, Rosana Gibertoni. Como ainda há uma grande quantidade de rejeitos de minério no ambiente, os eventos climáticos, que têm se tornado mais frequentes e severos, podem causar desastres em série na região da bacia do rio Doce.

