Nada mais emblemático para celebrar o Dia Mundial do Meio Ambiente – neste 5 de junho – do que a união entre conhecimento científico e tecnológico com o saber tradicional dos povos indígenas para promover a recuperação de áreas verdes. Essa é a essência do projeto que pesquisadores do Lactec estão desenvolvendo em parceria com o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio). O objetivo principal é restaurar 100 hectares de floresta no Parque Nacional Guaricana – um dos poucos remanescentes de Mata Atlântica no país – e, em paralelo, gerar oportunidades associadas de trabalho e renda para a comunidade local.
A área equivalente a 100 campos de futebol fica na Serra do Mar paranaense, entre os municípios de Morretes e Guaratuba, no litoral, e São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba. A região abriga a comunidade indígena Tupã Nhe’é Kretã, que será a grande aliada dos pesquisadores durante o processo de restauração. O diagnóstico participativo permitirá conciliar o trabalho com o atendimento às demandas dos moradores locais, levando em conta suas práticas culturais e a interação com aquele ambiente.
“Os indígenas já desempenham a função de protetores do parque porque moram junto à estrada que dá acesso a ele. Com as atividades, que serão desenvolvidas em conjunto, será possível restaurar a cobertura florestal de uma área antes usada como plantação de pinus e contribuir com a geração de renda da comunidade”, reforçou o pesquisador da área de Meio Ambiente do Lactec e coordenador do projeto, Juliano José da Silva Santos.
Também são parceiros no projeto o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) – Núcleo de Gestão em Curitiba (NGI), o Instituto Água e Terra (IAT), a Companhia Paranaense de Energia (Copel), a Fundação Nacional do Índio (Funai), a Sociedade Chauá e a própria aldeia Tupã Nhe’é Kretã.


Cadeia produtiva
Além do aspecto ambiental, o projeto tem um forte viés socioeconômico, pois a proposta é inserir a aldeia Tupã Nhe’é Kretã na cadeia produtiva já existente na região, que associa o plantio de mudas à restauração de áreas degradadas. A ideia é oferecer capacitação e treinamento para a comunidade indígena, analisar a viabilidade de implantação de um viveiro de mudas nativas e estimular a coleta, armazenamento e venda de sementes de espécies da Mata Atlântica como alternativa de atividade econômica para aquela população.
A vertente socioambiental do projeto vai ao encontro da temática definida pela Organização das Nações Unidas (ONU) para marcar a campanha do Dia Mundial do Meio Ambiente deste ano: “Uma Só Terra”, que chama a atenção para a “vida sustentável em harmonia com a natureza”. As ações marcam, também, os 50 anos da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, Suécia, que inaugurou as discussões sobre desenvolvimento sustentável em âmbito global, bem como os 30 anos da Rio+20.
Projeto multidisciplinar
O projeto no Parque Nacional Guaricana foi iniciado em janeiro deste ano e terá um prazo total de dois anos. Até o momento, já foram realizados o diagnóstico ambiental e delimitação da área a ser restaurada, por meio de georrecohecimento com drones, GPS e imagens de satélites. Os próximos passos são decidir quais espécies serão plantadas. Depois de consultas à comunidade indígena, ficou definido o plantio de árvores frutíferas, plantas medicinais e erva-mate nas áreas mais próximas à aldeia.
Para analisar todos os aspectos que devem ser considerados no trabalho de restauração florestal, o que inclui, além da flora, as condições de clima, do solo e fauna, por exemplo, a equipe do projeto é multidisciplinar. Envolve biólogos, engenheiros agrônomo e florestal, técnica em georreferenciamento, e, ainda, economista e sociólogos para as ações junto à comunidade.
Unidade de Conservação
O Parque Nacional Guaricana, com área total de 49,2 mil hectares, foi criado em 13 de outubro de 2014, por meio de decreto do governo federal. A Unidade de Conservação está localizada em uma área de transição entre as florestas de Araucárias e da Serra do Mar e é lar de espécies como anta, cachorro-do-mato, gato-do-mato e veado-mateiro.
Nota: O presente trabalho é desenvolvido no âmbito do Projeto Biodiversidade e Mudanças Climáticas na Mata Atlântica. Constitui-se em uma realização do governo brasileiro, coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), no contexto da Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável, no âmbito da Iniciativa Internacional de Proteção ao Clima (IKI) do Ministério do Meio Ambiente, Proteção da Natureza e Segurança Nuclear da Alemanha (BMU), com apoio financeiro do KfW Entwicklungsbank (Banco Alemão de Desenvolvimento), por intermédio do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio).