Transformar conhecimento em benefícios para a sociedade. É dessa maneira simples que o físico, mestre em Física Matemática e doutor em Química, Patricio Rodolfo Impinnisi, define o papel de quem trabalha com pesquisa, ciência e inovação. Pesquisador sênior do Lactec com mais tempo de casa (completa 21 anos no dia 1.º de agosto), Impinnisi foi escolhido como personagem desta matéria, que celebra o Dia Nacional do Pesquisador e o Dia Nacional da Ciência, para falar um pouco de sua trajetória profissional.
Impinnisi conta que descobriu sua vocação para fazer pesquisa ainda na infância, pois gostava dos filmes de ficção científica e de física. Teve o privilégio de ter tido professores que estimularam sua curiosidade e soube aproveitar as oportunidades que surgiram. “Quando os professores estão bem preparados, eles sabem transmitir essa vontade de conhecimento. E uma vez nesse caminho, não tem como voltar atrás”, afirmou.
Nascido em Buenos Aires, o argentino de 58 anos foi para a antiga União Soviética, no início da década de 1980, onde, com uma bolsa de estudos, fez sua graduação em Física na Moscow State University Lomonossov, mesma instituição onde cursou depois o mestrado em Física Matemática. Uma nova oportunidade de bolsa de estudos o trouxe para o Brasil, em 1991, para cursar doutorado em Química, na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Um ano depois de concluir o doutorado, em 1996, ingressou no Lactec, que três anos mais tarde viria a se tornar uma instituição privada.
Impinnisi divide seu tempo entre o trabalho como pesquisador no Lactec e como professor professor associado do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde leciona desde 2009.
Lacunas tecnológicas
Foi durante o doutorado na UFSCar que Impinnisi começou a desenvolver estudos com baterias, área na qual se especializou e que trabalha até hoje dentro do Lactec, liderando a equipe de pesquisas. Para Impinnisi, o Lactec teve uma decisão acertada ao investir em linhas de pesquisa e desenvolvimento (P&D) em baterias, pois ele entende que o armazenamento de energia é, hoje, um dos principais gargalos tecnológicos de setores fundamentais, como o de energias renováveis, de mobilidade elétrica e nas cidades inteligentes, por exemplo.
“As baterias se tornaram um ponto crucial na viabilidade das fontes renováveis. Até criança, na escola, entende que o mundo tem que buscar a transição energética. Já está no coração das pessoas. Agora, é preciso facilitar isso tecnologicamente”, apontou o pesquisador, referindo-se às tecnologias para armazenar energia de fontes intermitentes como a solar e a eólica. Segundo ele, o Lactec tem atuado fortemente nessa área. Atualmente, há seis projetos envolvendo armazenamento de energia em desenvolvimento e outros quatro sendo analisados.
O principal viés dos projetos, segundo Impinnisi, é o desenvolvimento de novas metodologias para o gerenciamento remoto, para aumentar a confiabilidade e estender a vida útil dos sistemas de armazenamento. Isso porque uma das aplicações das baterias se dá junto a usinas de geração solar fotovoltaica, que atendem a comunidades de regiões isoladas, sem acesso à rede elétrica convencional. “É necessário muito conhecimento em desenvolvimento de softwares, em ferramentas de gerenciamento. Para fazer isso, tem que saber a física, a química que está por trás desses produtos para entender o tempo de vida e a confiabilidade desses sistemas”, esclareceu o pesquisador.
Antecipando tendências
O papel da pesquisa e dos profissionais que atuam nessa área é também o de antecipar tendências tecnológicas. Em 21 anos de carreira como pesquisador, Impinnisi já participou de inúmeros projetos. Para ele, um dos mais emblemáticos foi o que envolveu estudos de células a combustível – transformar energia química, a partir dos componentes da água (hidrogênio e oxigênio), em energia elétrica. O estudo era pioneiro na América Latina, envolvia recursos consideráveis e a parceria com uma empresa norte-americana que fornecia células a combustível para foguetes da Nasa.
“O projeto não teve continuidade porque o mundo optou por outras tecnologias. Desenvolveram os celulares e ficamos no patamar intermediário entre o combustível fóssil e a célula a combustível, que são as baterias”, ponderou Impinnisi. Como estudioso da área, o pesquisador não tem dúvida de que uma das próximas ondas tecnológicas será baseada na “Economia do Hidrogênio”, trazendo de volta as pesquisas com células a combustível.