Pesquisadores do Lactec trabalham no desenvolvimento de soluções em mobilidade elétrica para suprir carências tecnológicas e ajudar o país a consolidar um mercado nessa área. São estudadas alternativas de infraestrutura de recarga de veículos e modelos de negócios associados para a comercialização da energia, além da inserção da eletromobilidade nas rotinas operacionais e de manutenção das concessionárias do setor elétrico. Os projetos foram contratados por empresas e instituições ligadas ao mercado de energia e atendem à Chamada de Projeto de P&D Estratégico n.º 22, da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
A frota de veículos elétricos e híbridos no Brasil ainda é inexpressiva. Ao final de 2019, havia pouco mais de 22,5 mil unidades rodando pelo país. No entanto, a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) projeta um crescimento de 300% a 500%, nos próximos cinco anos. Em 2019, foram licenciados 11.858 veículos elétricos, no Brasil, o que representou um aumento de quase 200%, em comparação a 2018, quando foram registrados 3.970 licenciamentos, segundo levantamento da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Este ano, até o mês de abril, o número de veículos licenciados (5.633) já representava quase metade (47,5%) do total de 2019.
“A eletrificação da mobilidade nos centros urbanos é uma tendência já consolidada em vários países que, certamente, alcançará o Brasil. E esse aumento da frota demandará mais estruturas de recarga e serviços de apoio aos usuários”, afirmou o presidente do Lactec, Luiz Fernando Vianna, destacando a importância dos investimentos em projetos de P&D na área para a adequação tecnológica do país a esse novo cenário, bem como para embasar a regulamentação de serviços relacionados à eletromobilidade.
O executivo avalia que a expansão da mobilidade elétrica pode ser, ainda, uma oportunidade para o Brasil atrair investimentos para a instalação de novos segmentos industriais (de acessórios e componentes para veículos elétricos, por exemplo), que ajudem a gerar empregos e a reaquecer a economia. Para Vianna, o estímulo ao crescimento da eletromobilidade é uma forma do país se ajustar, também, à agenda global de sustentabilidade, que tem priorizado a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) – boa parte resultante da combustão no transporte – e a transição energética.
Novos modelos de negócio
Nos projetos de P&D conduzidos pelo Lactec, no âmbito da Chamada n.º 22 da Aneel, os pesquisadores estudam a formatação de modelos de negócio, que ofereçam às concessionárias do setor elétrico novas fontes de receita, como a possibilidade de comercializar energia e, ao mesmo tempo, controlar a demanda, em pontos de recarga de veículos elétricos.
O pesquisador da área de Eletrônica do Lactec, Carlos Gabriel Bianchin, explica que, além da segurança de oferta de estruturas adequadas de abastecimento para os usuários dos veículos elétricos ou híbridos, há a preocupação, do ponto de vista técnico, de se evitar sobrecargas nos sistemas elétricos. Um condomínio residencial, por exemplo, que quiser ter um ou mais pontos de recarga, poderia contratar esse serviço, sem ter que investir na adequação de suas instalações elétricas. “A partir do controle automatizado pelo gestor do negócio, os pontos de carregamento poderiam ser ajustados para operar com as potências reduzidas, nos períodos de pico de consumo, ou nem operar para não haver risco de sobrecargas e desligamentos”, exemplificou. Há outras variáveis, como a autoprodução de energia em sistemas fotovoltaicos de geração distribuída, que também serão consideradas nos estudos do modelo de negócio proposto.
Em um projeto paralelo, está sendo desenvolvido um sistema virtual de bilhetagem para as estações de carregamento de veículos elétricos, que poderá funcionar com distintos sistemas de pagamento e gerar informações úteis aos usuários, como a própria localização dos eletropostos. De acordo com o coordenador do projeto, consultor da área de Sistemas Elétricos, Lúcio de Medeiros, o modelo visa, também, fornecer dados aos operadores e concessionárias de energia para melhor gestão do uso dos pontos de recarga.
Os projetos terão o respaldo de uma pesquisa, que está sendo aplicada pela área de Desenvolvimento de Softwares e Experiência do Usuário do Lactec, junto a donos e usuários de veículos elétricos no Brasil. A intenção é identificar as expectativas e necessidades quanto à oferta de estruturas de recarga, aplicativos e serviços, que tornem a experiência de uso do carro elétrico mais agradável.
Eletromobilidade nas rotinas do setor elétrico
A adoção da mobilidade elétrica pelas empresas do setor de energia também é objeto de estudo de projetos de P&D da Chamada n.º 22 da Aneel, nos quais o Lactec participa. Uma das frentes de pesquisa prevê a implantação de uma rota de postos de carregamento de veículos elétricos, para uso de funcionários em deslocamento entre usinas hidrelétricas e a sede da concessionária, que serão acessíveis à população.
Segundo a coordenadora do projeto e pesquisadora da área de Sistemas Elétricos do Lactec, Ana Paula Oening, a eletrovia irá subsidiar estudos para se desenvolver um modelo de comercialização de energia e, ainda, possibilitar a aproximação da população das tecnologias de eletromobilidade. “O uso de tecnologia inovadora para deslocamento entre as usinas e pontos estratégicos é uma excelente oportunidade para engajamento com a comunidade e para levar conhecimento na área de mobilidade elétrica às novas gerações”, complementou a pesquisadora, referindo-se à vertente educativa do projeto.
Em outra frente, os pesquisadores do Lactec estudam a implementação de um caminhão elétrico, com cesto aéreo eletro-hidráulico, para uso em manutenções de redes de distribuição de energia. Todos os estudos para dimensionamento do caminhão já vêm sendo realizados. O projeto contempla, ainda, a definição de procedimentos seguros e eficientes para carregamento do veículo na própria rede de baixa tensão da concessionária, além do desenvolvimento de um sistema inteligente para o gerenciamento da recarga do caminhão.