Por Nicole Machuca Brassac de Arruda, Murilo Radloff Barghouthi, Juliano José da Silva Santos e Gheysa do Rocio Morais Pires, pesquisadores do Lactec
Ambientes aquáticos, como reservatórios e rios, têm sofrido rotineiramente com a ocorrência de macrófitas. Essas plantas habitam espaços alagados, onde se encontram parcialmente emersas ou flutuantes, bem como em áreas com maior lâmina de água, nas quais podem estar totalmente submersas. Em ambientes naturais, não alterados pela presença do homem, normalmente não requerem manejo. No entanto, em ambientes que sofreram ação humana, essas plantas aquáticas podem crescer em quantidade exagerada, sendo necessárias ações corretivas. Espécies como o aguapé (Eichornia crassipes), por exemplo, em ambientes propícios para seu crescimento, podem duplicar seu peso a cada seis ou sete dias, necessitando de medidas eficazes de controle.
Sua presença descontrolada em ambientes aquáticos pode se tornar um problema ambiental. A decomposição de matéria orgânica afeta a disponibilidade de oxigênio e toda cadeia alimentar pelo sombreamento de espécies nativas. Também pode ocorrer aumento de habitats para desenvolvimento de vetores de doenças. Os problemas associados a macrófitas aquáticas podem ser de ordem econômica, uma vez que sua presença maciça em reservatórios hidrelétricos pode impedir a geração de energia, elevando o custo de geração e aumentando paradas não programadas de manutenção para limpeza de grades, entupimento de filtros, entre outros. No aspecto socioeconômico, a presença de macrófitas altera a harmonia paisagística, afetando o turismo e atividades como a pesca, além de causar mau odor em períodos de decomposição de material vegetal.
O Lactec possui expertise no diagnóstico e manejo de macrófitas aquáticas em ambientes de reservatórios hidrelétricos, desde levantamentos florísticos para o conhecimento das espécies presentes, estudos ecológicos, que buscam identificar as causas de seu crescimento excessivo, até as ações de redução ou remoção. A fase de diagnóstico e pesquisa é fundamental antes de se partir para a fase da remoção dessas plantas de alto potencial de infestação, a fim de auxiliar na escolha da técnica de manejo mais adequada para o local em questão. Seguindo esse procedimento, sem pular etapas, o resultado é um manejo otimizado e eficiente. Atualmente, como subsídio a essas atividades e possível alternativa de manejo, o Lactec conta com tecnologias de sensoriamento remoto, que estabelecem ferramentas na tomada de decisão, visando intervenções no ambiente onde as macrófitas ocorrem, bem como o monitoramento dos deslocamentos de seus bancos flutuantes e submersos.
Esse foi o contexto de um projeto para a CTG Brasil, em 2018 (P&D Aneel 10381-0317), coordenado pela área de Geossoluções do Lactec, no qual foi desenvolvida uma ferramenta computacional integradora de informações espaciais e demais dados do reservatório estudado, dotada de um mecanismo de alerta. O alerta é emitido assim que condições específicas, que propiciam o desprendimento e deslocamento de macrófitas, são detectadas no reservatório, permitindo, dessa forma, que o setor operacional da usina tome as ações necessárias para a prevenção de danos às estruturas do empreendimento. O projeto se encontra hoje em sua fase 2, com o aperfeiçoamento do sistema gerado com toda expertise adquirida nas campanhas de campo em sua primeira fase, além da inclusão de novos sensores de monitoramento.
No tocante à inovação, novas tecnologias estão sendo pesquisadas para servir como alternativas de manejo mais eficazes e sustentáveis, visando ao controle do aumento de populações de macrófitas, entre elas, o uso de dispositivos ultrassônicos e a busca de compostos seletivos, por meio de técnicas que utilizam genética e a potencialização de estratégia de competição entre as plantas conhecida como alelopatia.