Por Marcelo Alejandro Villegas Vallejos - pesquisador da área de Meio Ambiente
Os resgates de fauna consistem em conjuntos de ações em campo, voltadas ao salvamento da fauna silvestre, durante atividades que impactam ambientes naturais. Incluem a detecção de animais, seu afugentamento, a captura de indivíduos incapacitados, o aproveitamento científico dos espécimes mortos, o atendimento veterinário e manutenção temporária em cativeiro, translocação e soltura da fauna, em ambientes nativos.
Há, pelo menos, duas Instruções Normativas, que regem os resgates (IN 146/2007 e IN 179/2008) e são atreladas ao licenciamento ambiental de obras que requerem alterações da vegetação e paisagem, como supressão de mata nativa ou formação de reservatórios de água. Ou seja, trata-se de uma condicionante legal obrigatória, exigida pelos órgãos ambientais como uma das etapas do licenciamento ambiental nacional. Essa condicionante é necessária para construção de novos empreendimentos ou ampliação de áreas de operação, aplicável, por exemplo, a concessionárias de energia, empreiteiras, indústrias etc.. A não realização dessa etapa pode incorrer em multas, atrasos nos processos ou, até mesmo, inviabilização do licenciamento do empreendimento.
O Lactec atua em resgate de fauna, desde meados dos anos 2000, e tem uma equipe devidamente capacitada e com ampla experiência para as atividades necessárias ao processo, que, geralmente, necessita de atuação em tempo integral e concomitante às frentes de supressão de habitat. O Lactec já realizou resgates de fauna para diferentes setores empresariais, em especial para o setor elétrico, como o trabalho realizado para a Companhia Paranaense de Energia (Copel), na Usina Hidrelétrica Mauá e na Pequena Central Hidrelétrica Cavernoso.
O serviço de resgate de fauna requer muito cuidado e conhecimento dos pesquisadores, que atuam com o mínimo de intervenção possível no comportamento dos animais, sempre procurando incentivar sua fuga natural. No entanto, quando necessário, os profissionais atuam no revolvimento de abrigos, emissão de sons, auxílio no deslocamento, entre outros. Animais machucados ou encontrados sem capacidade de fuga – como em ninhos, filhotes, pequenos anfíbios, répteis e muitos insetos – são capturados e imediatamente transportados a um centro de triagem para avaliação, atendimento veterinário e posterior destinação. Esses espécimes podem ser mantidos temporariamente em cativeiro, até sua total recuperação, sendo posteriormente reintroduzidos em ambiente adequado à sua sobrevivência e em área de soltura predeterminada.
Além de todo o trabalho realizado com os animais vivos, o Lactec considera fundamental o tratamento dos espécimes encontrados ou que venham a óbito. Indivíduos mortos constituem material testemunho da biodiversidade local e, nesse sentido, devem ser submetidos a protocolos consagrados para garantir seu aproveitamento científico. Esses protocolos envolvem a forma de preservação de cada indivíduo, seu acondicionamento em recipientes e ambientes adequados, a devida rotulagem do material e a manutenção de todos os dados em livro-tombo, similar aos trabalhos museológicos em acervos científicos. Posteriormente, todo o material e respectivas anotações são encaminhados a instituições científicas, que podem receber e dar destinação final aos vouchers coligidos durante o resgate.
O principal objetivo dos resgates de fauna é diminuir os danos às populações de animais silvestres nas regiões onde se instalam grandes e impactantes obras. Especificamente, visa minimizar a mortalidade direta dos animais, devido às alterações nos ambientes naturais, ao tempo em que permite a reorganização da fauna na paisagem, por meio de sua fuga natural e realocação direcional. Para que esse objetivo seja avaliado, é fundamental que ações de monitoramento eficientes sejam também realizadas, pois, caso contrário, os esforços de resgate podem ser ineficientes ou mesmo levar a danos a outras regiões (por exemplo, pela soltura de animais em locais inadequados ou pelo adensamento de indivíduos).
O Lactec conta com expertise em diversas outras áreas de atuação, como equipes para monitoramento e conservação da biodiversidade, análises geoespaciais, químicas ou toxicológicas, entre outras, que podem ser complementares ou necessárias para monitoramento, ao longo do funcionamento do empreendimento.