A pior estiagem das últimas décadas no Paraná levou o governo do estado a decretar, no início do mês, situação de emergência hídrica por 180 dias (Decreto Estadual n.º 4626). Esse cenário crítico trouxe para as rodas de discussões técnicas um tema que, diante do aumento na ocorrência de eventos climáticos extremos, vem ganhando cada vez mais importância: a necessidade de se intensificar os investimentos em tecnologias, que favoreçam a gestão e proteção dos recursos hídricos, além de estimular o consumo consciente da água.
O Lactec – como um centro de referência em pesquisa e inovação, com vasta experiência em estudos hidrológicos, hidrodinâmicos e ambientais – tem procurado fomentar esse debate para que novos estudos e instrumentos tecnológicos possam ajudar a embasar a construção de novas políticas públicas na área, bem como adequar aquelas já existentes. “O longo período sem chuvas é a principal causa dos problemas de abastecimento de água que o Paraná vem enfrentando e que pode, também, comprometer a produção agrícola na Região Sul. No entanto, há uma série de outros fatores, que podem ter contribuído para que se chegasse a esse nível de criticidade”, observaram pesquisadores da área de Meio Ambiente do Lactec.
Entre as prováveis causas para o agravamento da crise hídrica, os especialistas apontam o aumento na demanda de água pelos mais diversos tipos de usos, maior frequência de eventos climáticos extremos e a poluição dos recursos hídricos, que diminuem a oferta de água para fins de abastecimento, entre outros fatores. “Mais investimentos em tecnologias já existentes para adequações em sistemas de captação e armazenamento de água, tratamento de água e esgoto e para o monitoramento da qualidade e volume de água disponível, por exemplo, poderiam ajudar a atenuar os efeitos de uma situação futura de estiagem severa”, explicaram os pesquisadores, defendendo, ainda, a realização de novos estudos para o aprimoramento da aplicação de ferramentas de gestão dos recursos hídricos e de mecanismos de alertas de secas.
Os investimentos em dispositivos para controle e gestão do fornecimento e do consumo – como hidrômetros digitais, telemetria, big data e internet das coisas -, segundo os pesquisadores, teriam um cunho educativo para o uso racional da água e, também, contribuiriam para a melhoria no controle das perdas técnicas e comerciais pelas concessionárias de abastecimento.
Segundo informações divulgadas pelo Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar), mesmo com o retorno das chuvas, o volume seria insuficiente para recuperar, no curto prazo, os níveis normais de vazão dos mananciais de abastecimento, considerando as médias históricas e o enorme déficit acumulado. As vazões naturais do rio Iguaçu, em União da Vitória, por exemplo, são as mais baixas registradas desde 1930. De acordo com o Simepar, a estiagem afeta, também, as bacias hidrográficas destinadas à geração de energia elétrica.
Experiência
O Lactec conta com profissionais de diversas áreas do conhecimento, com ampla experiência em modelagens computacionais, estudos hidráulicos e hidrológicos, bem como com especialistas da área ambiental com experiência na aplicação de instrumentos de gestão de recursos hídricos, monitoramento da qualidade de água, tratamentos de água e esgotos e reúso de água. Muitos desses estudos contam, ainda, com o suporte de uma equipe especializada em geossoluções para a execução de processamento de dados geoespaciais e levantamentos topobatimétricos.
Uma das frentes de atuação do Lactec envolve a realização de modelagens computacionais para análises hidrológicas e hidrodinâmicas, que embasam a operação de reservatórios, sistemas de alerta ou a elaboração de Planos de Ações de Emergência, por exemplo. Essas modelagens, que se baseiam no uso de algoritmos inteligentes para o cruzamento de informações e apresentam interfaces intuitivas, são extremamente úteis para as análises de otimização de sistemas de recursos hídricos. Incorporam, de forma automática e em tempo real, uma série de dados e processamentos, munindo de subsídios o tomador de decisão.
O Lactec também já realizou diversos estudos relacionados a estiagens e previsões, desenvolvendo sistemas integradores de apoio à decisão, assim como estudos de regionalização de variáveis hidrológicas para todo o estado do Paraná.
Em relação à qualidade da água, os especialistas da empresa detém conhecimento em projetos de caracterização qualitativa, uma vez que a redução no nível de reservatórios pode favorecer a proliferação de microalgas e comprometer a diversidade de espécies – de flora e fauna – nesses ecossistemas artificiais.
A racionalização no uso da água em processos industriais também deve ser uma das preocupações do setor produtivo, especialmente, em períodos de estiagem. O know-how do Lactec na gestão do consumo industrial inclui projetos de reúso de água, a partir do desenvolvimento de arranjos tecnológicos, que atendam uma única empresa ou um polo de indústrias. São soluções que, além de reduzir a pressão sobre o uso de mananciais de abastecimento, podem representar uma economia significativa nos custos operacionais.
“Projetos de Pesquisa e Desenvolvimento são um dos pilares de atuação do Lactec e essa vasta experiência coloca a empresa como referência para enfrentar grandes desafios, tais como esta crise hídrica, cujas soluções demandam capacidade técnica e inovação”, concluíram os pesquisadores.